(Ricardo Kertzman, publicado no portal O Antagonista em 12 de maio de 2025)
O presidente Lula foi à Rússia lamber as botas ensanguentadas de Vladimir Putin e celebrar, ao lado de ditadores africanos e outros tiranetes amigos, os 80 anos da vitória soviética sobre o nazismo na Segunda Guerra.
A cena seria apenas infame ou mais um passeio internacional inútil – às custas do nosso dinheiro – com sua primeira-blogueira (termo apropriadamente cunhado pelo Felipe Moura Brasil), não fosse também obscena.
Enquanto a Ucrânia sangra sob bombas russas, o presidente brasileiro exibe sorrisos e troca abraços fraternos com o responsável por uma agressão condenada pela ONU, pelo Tribunal Penal Internacional e qualquer pessoa minimamente decente.
Outra vez?
Lula não é exatamente afeito à decência e, no sábado (10), em entrevista, voltou a chamar Israel de “genocida”, servindo novamente como porta-voz informal do Hamas – grupo terrorista que promoveu o massacre de civis israelenses em 7 de outubro de 2023.
Os ataques de Lula não são apenas desinformados; são perigosos. Alimentam o antissemitismo, relativizam o terrorismo e invertem vítimas e agressores. A Confederação Israelita do Brasil (Conib) emitiu uma dura nota no domingo (11).
Pontuou que o presidente brasileiro distorce os fatos, ignora os crimes do Hamas e promove um discurso que beira o negacionismo, além de repudiar a declaração grotesca em que Lula acusa Israel de “matar crianças” – o que não é a primeira vez.
Lula e o antissemitismo
Tal retórica infundada ecoa os piores estigmas históricos contra o povo judeu. Para a Conib, a fala de Lula não apenas erra nos fatos, mas legitima uma narrativa antissemita que alimenta o ódio. Aliás, os casos de antissemitismo explodiram no Brasil e no mundo.
Desde o início do conflito, iniciado novamente pelos terroristas do Hamas, o governo brasileiro se equilibra entre omissões e ataques seletivos, sempre poupando os amigos da esquerda autoritária e atirando nos alvos da velha narrativa antiocidental.
Não é coincidência, portanto, estar na Rússia bajulando Putin ao lado de outros facínoras, sendo o único líder de uma democracia relevante a legitimar, com sua presença de chefe de Estado, um desfile militar transformado em propaganda de guerra.
Caso de amor
Putin, que invade outro país, prende opositores e assassina jornalistas, recebe de Lula o afago cúmplice, como bom entusiasta do revisionismo que lhe convém e que aplaude de pé. É a costumeira e revoltante seletividade moral do lulopetismo.
O chefão do PT chama Israel de genocida, mas confraterniza com quem, além de invadir a Ucrânia, carrega nas costas – aí, sim – limpeza étnica na Chechênia, bombardeios contra civis na Síria e repressão brutal contra os povos do Cáucaso.
Mas Putin não é exceção na trajetória diplomática de Lula; é regra. O petista sempre demonstrou afeto por ditadores, desde os tempos dos irmãos Castro, em Cuba, e Hugo Chávez, na Venezuela, a quem, inclusive, chamava de “irmão”.
Ditadores “for ever”
Hoje, continua adulando Nicolás Maduro como adulava o nicaraguense Daniel Ortega, o iraniano Mahmud Ahmadinejad, o líbio Muammar al Gaddafi, todos eles marcados por perseguições, prisões arbitrárias, censura e, em muitos casos, assassinatos.
Essa lista de “amigos ideológicos” de Lula é longa, constrangedora e reveladora. Nenhum deles governa sob a lógica da democracia. Nenhum deles respeita as liberdades civis. Todos, sem exceção, veem o poder como instrumento de dominação perpétua.
O que temos não é só incoerência; é um projeto. A política externa brasileira, sob Lula, abandonou qualquer compromisso com valores universais – direitos humanos, democracia, soberania -, e sempre abraçou o cinismo pragmático dos sanguinários de quem é cúmplice.